Princípios de Educação Clássica – Futuro da Educação Moderna (PARTE I)


 

Para escrever a um blog que se intitula Medievalitas, e que busca resgatar valores da Idade Média Latina e a Romanidade remanescente pelas relações comerciais e culturais que envolviam o Mare Nostrum, ao falar de educação, pareceria convir mais explicar os eventos históricos que levaram Carlos Magno a instituir as primeiras escolas da corte sob a supervisão monástica de Alcuíno de York. Por sorte, neste espaço há gente mais capacitada para o empenho e, por isso, vou me remeter aos princípios que encontramos na antiguidade, passando por alguns momentos na história em que eles são mais ou menos retomados, para comentar sobre sua eficácia no que seria uma educação de qualidade.

Comecemos, desde já, buscando definir que coisa seja educação ou educar alguém.

Nessa busca, o mais simples é começar pela etimologia, de onde educar viria de “educere”, conduzir de um ponto ao outro, em alusão ao que em grego chamaríamos “paidagogos”, em referência aos escravos que conduziam as crianças pela mão. É preciso, portanto, conduzir alguém incapaz por um caminho seguro até um determinado fim, e nisso consiste a arte de educar. Existe, portanto, necessariamente três elementos: o sujeito, o método e a finalidade. Esses três elementos serão trabalhados por quem tenha já alcançado a perfeição do ensinado, a que chamamos mestre.

Aqui já vamos dando forma a uma definição completa do que seja educar, através das clássicas 4 causas aristotélicas: causa material (o educando), causa formal (o método), causa final (o educado), causa eficiente (o educador); cuja atividade central consiste na comunicação, na tradição, por parte do educador, de uma certa perfeição (a educação), a um sujeito a ser transformado (o educando).

Educar é, portanto, e em última análise, o ato de atingir uma certa perfeição.

E é um fato da história que os homens têm buscado, e defendido como motivo de honra, o atingir um grau de perfeição; seja no seu ofício, seja em um passatempo específico, seja em qualquer arte ou ciência a que se dedique. Em tudo isso, o ato de se aperfeiçoar permanece o mesmo, variando os métodos e as finalidades em conformidade com as exigências do tempo.

Se estudamos a História de Henri Irene Marrou, encontramos os gregos primeiro se ocupando de artes, como a poesia, a música e a dança – provavelmente elementos que correspondiam às práticas religiosas e envolviam a necessidade de uma dedicação atenciosa. Mas, já nas páginas de Homero, percebemos que o ideal grego envolvia a capacidade de bem falar na assembleia, além da capacidade atlética dos jogos e artes da guerra. É como se a função mais premente da sociedade indicasse o objetivo da educação. Assim, em Esparta, a educação militar era obrigatória e visava a composição militar do Estado, pelo que se tornou célebre.

Assim, também, a escrita e a matemática foi se desenvolvendo na medida que era necessário ao homem oficializar seus atos, legar seus bens e ideias, transmitir sua cultura, eternizar suas leis, além de armazenar, prestar contas e gerir negócios. Na medida que essas atividades vão ganhando relevo social, elas também vão se tornando matéria da educação.

Cícero é produto direto da importância que a fala tem na política romana; Varrão é a resposta para a necessidade de se criar um sistema religioso coeso, em uma época que a razão já despontava pelo advento da filosofia. Enquanto a política seguia como a mais importante ação social, foram os sofistas os principais professores dos gregos – em uma época em que Pitágoras indicava a música como atividade ascética - e só no despertar dos jovens por um amor à sabedoria foi que surgiu o interesse pela atividade intelectual em si mesma – dirão alguns autores que pelo sentimento de espanto dos filósofos pela consciência da realidade e a busca de suas causas.

Entre os Árabes, povo precipuamente nômade e comercial, a prática da contagem e da astronomia eram ainda mais essenciais, pelo que se desenvolveram como nenhum outro povo nessas artes. E foi pela necessidade da Península Ibérica de chegar ao outro ponto do mundo, que se desenvolveu o astrolábio e as modernas técnicas de navegação.

Em todos esses momentos haverá também um modelo, alguém que por sua grande capacidade e renome se identificará com o ideal de educação. É o caso de Cícero para a retórica, ou Newton para a física clássica, ou Einstein para a Fisica Moderna, ou Poincaré, Sadi-Carnot, Tesla, etc. Cada um deles é um motor e um modelo a que se deve buscar no domínio de suas respectivas artes, e são extremamente necessários para a educação, porque a mimese é o ato mais antigo e dos mais eficazes no processo educativo. Aprende-se mais facilmente aquilo a que nos habituamos a imitar

O modelo é quase um quinto elemento entre os sine qua non apresentados em nosso artigo, ainda que ele faça, de certo modo, parte da causa formal, do método. Em nosso processo educativo faz-se, por fim, necessário estabelecer esta causa – que se faz em parte definindo também o fim último de uma educação.

E é claro que, depois de analisar a evolução da história, com seus altos e baixos, percebemos claramente que a educação foi informada por aquilo que era prioritário, seja a guerra, a fala ou o comércio; mas percebemos também que todos esses fins são contingentes, o que faz também com que as formas aprendidas sejam modelos com suas datas de validade, o que diz muito sobre a necessidade corporal, e pouco diz às almas dos homens.

De onde resta claro que a busca por esse saber que nos eleva ao cume só pode advir por um saber que nos diz pouco sobre nossas necessidades físicas, mas conversa com que há de mais nobre no homem. E daremos conta de que a princesa das formações é a filosofia.

O texto poderia morrer por aqui, com uma conclusão mais ou menos acertada de que o homem educado é, em certa medida, filósofo – um amante da sabedoria. E de fato seria assim se o homem fosse, como são os animais, não mais que um ser puramente natural. Mas tal homem natural nunca existiu na história, não passando de uma confabulação de mentes bagunçadas pelo naturalismo. Não, o homem foi criado espiritual e participante da vida divina, contendo em si um elemento sobrenatural chamado Graça. Através disto o homem passa a possibilidade de ter com a própria Sabedoria, que é Deus, e entender nele toda a realidade. Nesse degrau mais alto, a educação passa a ser o esforço para facilitar e mediar esse encontro, e seu modelo perfeito será o Cristo, assunto da próxima parte desse texto.

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