O MISTÉRIO MEDIEVALITAS

 

1) A origem do Medievalitas 

Parada obrigatória para esclarecer o mistério por trás do nome e do surgimento da página. 

Pois bem, como pudeste ler em nosso primeiro texto, caro leitor, o conceito de Idade Média abordado no blog é bem mais amplo que o que se vê por aí. Medievalitas é um neologismo em latim que usamos para resgatar a ordem natural da civilização construída na Idade Média. A medievalidade, tradução do vocábulo em latim que dá título a este blog, permeia tudo o que deu origem ao nosso mundo ocidental, a saber, os elementos greco-romanos e o cristianismo. Tudo isto compõe um ser muito peculiar, cuja personalidade é muito diferente da de outros povos, sobretudo das sociedades orientais. É de se lastimar que toda essa civilização tenha sido, ao longo da era pós-renascimento, atacada com tanta dureza ao ponto de ter sido solapada em suas mais profundas estruturas e não ser possível já observar nenhum fragmento visível dela em nossos dias. Hoje não se vê mais nada que nos remeta aos princípios clássicos sobre os quais ela foi construída nem à ordem espiritual preconizada pela Igreja Católica, sua fundadora. 

Diante de todo esse cenário desolador, uma dupla de rapazes católicos de Fortaleza, Yuri Sampaio e Arthur Henz, resolveram se reunir semanalmente, ou quando se podia, às quintas-feiras para tratar, de uma maneira leve e descontraída, da crise civilizacional que nos assola. Que paradoxo camoniano misturar alegria e pesar num mesmo evento. Chamávamos a esta reunião de Quinta Medieval. Era de praxe levarmos às nossas Quintas Medievais algum autor sobre cuja leitura faríamos uma resenha despretensiosa à mesa, e, a partir do mote do livro lido, examinaríamos a derrocada do mundo atual. Entre um gole e outro de uma boa cerveja, a conversa fluía e outros autores chegavam para sentarem-se à mesa e integrarem nosso papo. De repente, passávamos de um a outro, estabelecendo um diálogo entre autores, como Homero e Cícero, ou entre vultos históricos, como Carlos Magno e Godofredo de Bulhões. Até mesmo os grandes santos e místicos se imiscuíam na conversa. Era como um grande banquete medieval em que todos eram livres para sentarem-se e festejarem as belezas do mundo natural criado por Deus. Todos podiam falar e ser ouvidos. Em nossa mesa ninguém ia ser "cancelado"[1] por expor a vida normal, como sempre existiu, ou até mesmo falar sobre a vida da graça sobrenatural, tão esquecida nos convívios alhures. É interessante perceber que nunca foi tão atual uma frase atribuída a um grande santo no distante século XIII: "O Amor não é amado". São Francisco certamente, na sua frugalidade, não se sentaria conosco, porém sua preocupação era compartilhada por nós na mesma medida em que ele a procunciou: Deus, o próprio amor, já não é amado na Sua Pessoa, nem nas leis que estabeleceu para a natureza humana, muito menos em relação ao fim último que o homem deve alcançar após a morte, a visão Dele mesmo, sem o véu das coisas materiais, através de uma eterna união espiritual[2] no céu.

Em suas Reflexões Autobiográficas, o filósofo Eric Voegelin mostra o quão profícuo é estabelecer uma reunião com amigos de mesmos interesses intelectuais, para cada um apresentar suas impressões sobre um assunto com comprometimento e profundidade. Desse ambiente desabrocham trabalhos escritos, palestras e aulas, que serão muito úteis ao desenvolvimento intelectual dos membros e à criação de boas obras. Com isso em mente, outras pessoas foram convidadas à nossa mesa para dividir também conosco o sabor inesgotável das grande produções literárias. Só tivemos a ganhar à medida que mais pessoas nos acompanharam. Vanessa e Nícolas são muito talentosos, cada qual em sua área. Assim, aquilo que era um encontro sem a menor pretensão tomou a forma de um web site para publicarmos nossos escritos e levar nossas Quintas Medievais a outros que estejam sozinhos e anseiam por alguma companhia com quem se possa aliviar um pouco o fardo dessa vida. 

Portanto, senta-te a nossa mesa virtual, caro leitor, e aprecia o manjar que temos a te oferecer. Pega a bebida de tua preferência e não tenhas medo do que os outros vão achar. Oferecemos a ti o bom signo da nossa amizade e o ótimo convívio de outros maiores do que nós, que nos precederam. Edamus et bibamus cum magnis nostri civitatis ilustribus viris, sine stultis agitationibus, quia bonum et aedificans nobis  hos magnos viros noscere et ad eos appropinquare[3]. O jantar está servido. Sirva-te à vontade, leitor!  
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[1] É a palavra da vez, pela qual se esconde um tipo novo de ditadura mais cruel ainda que as de outrora. Diferente das anteriores, que perseguiam e matavam seus opositores, esta do "cancelamento" deseja marcar a pessoa que teve a ousadia de ir contra seus falsos princípios com uma execração pública, impedindo de ter qualquer simpatia de seus semelhantes e dilapidando no "réu" o maior dos bens naturais, a reputação.  É quase uma morte em vida. Fomenta, assim, um estado de todos contra todos, em que cada um é vigilante de seu próximo em vista do "perigo" que representa para o bem-estar público pensar a civilização segundo o antigo regime, como era vivida durante 2000 anos. É o 1984, de George Orwell, colocado em prática, com a facilidade das redes sociais, e aplaudido por uma grande massa uníssona, que se impõe pelo número. 
[2] Camões, ilustre poeta lusitano, já havia descrito essa união entre a alma bem-aventurada e seu Criador em um de seus sonetos. O amor pleno só acontece quando se unem espiritualmente os dois seres que se amam, Deus e a alma, numa tal metamorfose que um parece se confundir com o outro: "Transforma-se o amador na cousa amada, / Por virtude do muito imaginar; / Não tenho logo mais que desejar, / Pois em mim tenho a parte desejada". Eis a essência mesma do amor ágape: unir-se e se doar ao ser amado, Deus, até que a união seja perfeita e Ele mesmo seja visto na alma do justo na bem-aventurança celeste.  
[3] Comamos e bebamos com os grandes homens ilustres da nossa civilização, sem a preocupação tolas, pois é bom e edificante a nós conhecê-los e nos aproximarmos deles.


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2) Acerca do Símbolo do MEDIEVALITAS e Seus Significados

Como um dom de hospitalidade, quero te oferecer uma explicação, leitor, sobre nosso brasão para que te interesses ainda mais por nossa página. Presta atenção: 1) Ao centro, um portal em forma de arcos de igreja românica, o primeiro estilo arquitetônico da Igreja Ocidental. Os arcos românicos são uma marca deste estilo. 2) Bem no meio, há uma porta estreita dourada pela qual somente os mais empenhados irão passar, os que obedecem a Nosso Senhor quando ele manda escolher essa porta ao invés da outra, mais larga (Mt 7, 13-14). 3) Rodeando o portal, há um muro de pedra, o que nos remete à beleza e rusticidade das antigas construções romanas. É a firmeza dos princípios sobre os quais este mundo latino medieval foi construído. 4) Ao lado direito e esquerdo dos muros, estão os lírios, símbolo da pureza necessária à elevação da alma. Sem a pureza d'alma dada pela literatura e pela arte, a dureza das pedras predomina e torna tudo opaco e sem vida. 5) Acima do pórtico, uma cruz disposta sobre uma pequena torre triangular. A cruz é singela mas, nem por isso, perde sua autoridade, pois deve constar, no ponto mais elevado, como fim último de toda obra humana. É o reinado de Nosso Senhor Jesus Cristo, que é ao mesmo tempo Deus e rei de toda sociedade. 6) Por fim, abaixo do pórtico, está em destaque, em forma côncava, a inscrição mens ingenti flumine litterarum inundata, frase do escritor latino Petrônio, cuja tradução é a mente (deve ser) inundada pelo abundante rio da literatura. Toda nossa página, além de se direcionar a Deus, será permeada pelas obras literárias greco-romanas, que fizeram surgir, com lírios e pedras, este maravilhoso mundo ocidental, pela qual ainda estamos de pé.   






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