ὁ κατέχων


 

A expressão está na Segunda Carta aos Tessalonicenses, e se ubica entre alguns dos termos que as Sagradas Escrituras reservam para os fatos maravilhosos que ocorrerão no Fim dos Tempos.

Seu significado faz referência a uma barreira, um impedimento, um obstáculo à vinda do Anticristo. Desde então, toda uma miríade de teólogos e santos padres, comentadores dos Textos Revelados de uma maneira geral, fazem suas apostas sobre que obstáculo seria esse, capaz de frear o avanço do Filho da Perdição – ou o correspondente ao início do Apocalipse, tal como concebido pelos cristãos.

Ainda que haja algumas opiniões distintas, parece existir um consenso de que o impedimento era o próprio Império Romano, ao menos assim o enxergava Santo Agostinho, o maior dos Santos Padres. Mas se assim fosse, pareceria que o obstáculo estaria derrubado desde o início da Idade Média, com a queda do Império do Ocidente, ou pelo menos após a invasão mulçumana que pôs termo ao Império do Oriente. Entretanto, parece ser um fato que após mais de 500 anos do mais recente desses fatos, nada vimos ou ouvimos daquele que é capaz de tudo, “até de tomar lugar no templo de Deus, e apresentar-se como se fosse Deus”.

A questão é ainda mais interessante, porque apesar de que o Império Romano enquanto realidade histórica seja um fato do passado, seu espírito permaneceu na Instituição que, ao invés de ser derrubada juntamente com sua estrutura, recebeu a todos os povos e os catequizou, tornando-se o centro e o guia de toda uma nova sociedade – a Cristandade. Deste modo, coube ao mais eminente dos teólogos, Santo Tomás, afirmar que é a Fé Católica a barreira real e eficaz contra a vinda do Anticristo, e nisso não há contraposição com a tese de Santo Agostinho, senão que há uma completude, pois é a Igreja o ápice do Império Romano.

A Igreja Católica é de fato ROMANA, e não há poucas razões para que defendamos essa propriedade, marcada com sangue. É verdade, a Roma Pagã, tão gloriosa em seu império, foi fundada pelo fogo da guerra e pelo sangue de um fratricídio, quando, para preservar a incolumidade dos muros da cidade, Rômulo matou Remo. Mas essa cidade eterna e coração da Cristandade também foi fundada por um fogo ainda mais alto, o da caridade, e pelo sangue de dois irmãos na Fé, São Pedro e São Paulo.

Com o martírio dos dois maiores apóstolos a mera localização passa a ser o centro da Igreja, e a partir dali o mundo pagão é batizado. Não existirá, como será confirmado na feição do Codex Iuris Civilis, Roma sem a Fé Católica, nem autêntico catolicismo sem a “Romanidade’.

E o que é a “Romanidade”, senão o conjunto das disposições sociais iluminadas pela Fé? Eis o Cathecon!

Santo Tomás, em seu comentário às Cartas aos Tessalonicenses de fato fala da Fé da Igreja, mas é preciso discernir. A Fé não se apagará jamais do mundo, pois até o fim dos tempos, como consequência da Indefectibilidade da Igreja, haverá um conjunto de fiéis, mesmo que voltemos a nos tornar 12! O desaparecimento da Fé de que se trata, não é a Fé teologal que é vida das almas, mas a Fé expressa nos institutos sociais que transforma e se torna a vida das civilizações. É, sobretudo, a Fé expressa formalmente pela Igreja, e foi esse o obstáculo retirado quando a Igreja adotou um caráter dialógico em todos os seus atos, abandonando a segurança das definições e das certezas.

A consequência imediata é a apostasia generalizadas das nações. Esta apostasia, na realidade, não ocorre tanto quando por uma disposição um determinado estado deixa de ser confessional, mas quando esse mesmo estado começa a governar por leis iniquas, que contrariam a Lei Divina e a Lei Natural. Neste particular âmbito jurídico, o que mais se observa é a facilidade com que a o Direito abre mão de ser uma ciência da realidade com aplicação normativa nas relações humanas – através do reconhecimento de uma natureza e, a partir dela, do princípio de ordem prática que deve valer para certas disposições previstas – e se transforma em um simples voluntarismo, pautado na abstração máxima de uma vontade geral que não é mais que despotismo e tirania.

Se analisarmos no aspecto mais nevrálgico da sociedade, a própria família perdeu sua força. Inicialmente, com a Reforma do Código Civil de Napoleão, adotou-se um parâmetro amplamente individualista e o laço familiar rebaixou-se ao mero negócio patrimonial, com a divisão igualitária da herança e a concorrência do estado, obrigando que o patrimônio particular fosse enfraquecido com as gerações. Hoje já presenciamos revolta ainda maior, ao observarmos que os lações familiares são tão frágeis que a lei dá mais vantagens às uniões precárias que aos matrimônios formalmente constituídos, e isto tudo porque a família também é produto da vontade cega, sem necessidade de uma correspondência à natureza biológica, à realidade.

Todos esses princípios que se perdem são a herança que recebemos da Romanidade, e a que não demos valor. Cada um desses tijolos demolidos, é uma abertura nas muralhas da Cidade de Deus, e essa ruína não são mais que as trombetas dos anjos anunciando a ruptura de mais um selo.

Mas não nos desesperamos, caríssimos leitores! A pesada mão de Deus, como nos demonstra a história, pode sempre ser atrasada. A ruína do Ocidente também pode, mesmo que já estejamos em avançado estágio de decomposição. Basta reerguermos o Cathecón, retomarmos a força civilizadora que nos foi legada pela Santa Igreja, voltar para casa. Talvez não consigamos impedir a vinda do Anticristo ao mundo, mas certamente impediremos que ele venha a dominar as nossas almas.

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