O VERÃO CHEGOU!



Sumer is icumen in
Lhude sing cuccu
Groweþ sed
and bloweþ med
and springþ þe wde nu
Sing cuccu

Awe bleteþ after lomb
lhouþ after calue cu
Bulluc sterteþ
bucke uerteþ
murie sing cuccu

Cuccu cuccu
Wel singes þu cuccu
ne swik þu nauer nu

Sing cuccu nu • Sing cuccu.
Sing cuccu • Sing cuccu nu

 

  1.  O verão chegou,
  2. O cuco canta alto,
  3. A semente germina,
  4. O prado desabrocha,
  5. As matas florescem,
  6. O cuco canta.
  7.  
  8. A ovelha balindo para o cordeiro,
  9. A vaca mugindo para o bezerro,
  10. O boi empinando,
  11. O bode peidando,
  12. Feliz canta o cuco .
  13.  
  14. Cuco, Cuco
  15. Bem cantas, cuco,
  16. Não te cales agora.
  17. Canta agora, cuco; canta, cuco.
  18. Canta, cuco; canta, cuco.

 

Mirie it is while sumer ilast
with fugheles song
oc nu necheth windes blast
and weder strong.
Ei ei what this nicht is long
And ich with wel michel wrong.
Soregh and murne and fast.

 

  1. Somos felizes enquanto dura o verão,
  2. Com seus cantos de pássaros.
  3. Mas agora aproxima-se um vento forte,
  4. E o clima é severo.
  5. Eh, eh, como é longa esta noite,
  6. E como tudo me atormenta,
  7. Angústia, tristeza e fome (jejum).

 

Como é Solstício de Verão no Hemisfério Norte, nós do blog Medievalitas compartilhamos com nossos leitores duas canções inglesas do século XIII, que condensam o sentimento de alegria com a chegada do Verão e a tristeza inexorável que produzia o seu ocaso: “Mirie it is” e “Sumer is icumen in”.

“Mirie” é simples e lírica: o compositor expressa alegria e tristeza: o verão alegra porque aquece; é o tempo da colheita, os dias são longos e embalados pelo canto dos pássaros (with fugheles song); a chegada do inverno entristece, escurece os dias (eh eh what this nicht is long – como esta noite é longa), esfria,  traz incertezas quanto à próxima semeadura e à duração dos grãos; o camponês se preocupa, seus sentimentos são “soregh and murne and fast” (preocupação, melancolia e fome, jejum). A Natureza é um espelho da alma. Na tradição lírica francesa, o outono é símbolo do estado de alma triste e nostálgico de um amor passado ou inalcançável.

Sumer is incumen in” é, segundo Carpeaux, quase o mais antigo monumento da literatura inglesa. Com efeito, trata-se de uma canção na forma de Cânon, muito antiga, quase contemporânea de “Mirie” e escrita em inglês médio. É eufórica, simples nas palavras e prosaica no tema, cantando as imagens do campo, a vida natural, o florescimento e a pujança que se faziam ver durante os verões daquela Inglaterra que historiadores evocam como “Merry England”.

O verão inglês era igualmente a época de grandes festivais e de encenações de autos teatrais nas cidades e vilas, peças centradas nos mistérios católicos: Natal, Epifania, Páscoa, Anunciação, etc. No calendário litúrgico, muitos desses mistérios estavam em datas que coincidiam com o inverno e o começo da primavera, quando o clima não permitia apresentações ao ar livre. Deste modo, os autos eram encenados no final de maio e em junho, na chegada do verão e por isso em seu conjunto acabaram sendo conhecidos como Ciclo de Corpus Christi - devido à proximidade com aquela grande festa -, embora os mistérios representados fossem de todas as épocas do calendário católico.

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